Acolhido de Abrigo institucional de Vitória é protagonista de curta-metragem
O que você pensa quando ouve falar em potencialidades? Antes de formular uma resposta, conheça a história de Carlos Augusto Cândido, de 55 anos, protagonista do curta-metragem “Delírios e Abrigamento”. Produzido pela equipe técnica do Abrigo Institucional para Pessoas em Situação de Rua II, localizado em Jardim Camburi, o filme foi exibido na manhã de terça-feira (21), na Casa do Cidadão. A sessão atraiu um público diversificado entre colegas de abrigamento e profissionais da rede socioassistencial de Vitória e intersetorial.
Com transtorno mental, há 20 anos Carlos saiu das ruas e vive em abrigamento social. No curta-metragem, fala das suas percepções da vida e do cotidiano. Dialogando com as lentes da câmera, ele mostrou sua potencialidade nas artes visuais e, em outros momentos, em forma de poesia.
Como nas grandes estreias dos cinemas, Carlos foi orientado a vestir-se como uma estrela, já que era o protagonista do curta. Ao ser questionado se ele estava se “achando”, a resposta foi surpreendente. “Eu me achava. Fui encontrado. Mas queria estar de chinelo e não com esse tênis que colocaram em mim”, disse ele. Em outro momento, Carlos disse que era o Hugo Carvana, ator e diretor de cinema e televisão brasileira (1937-2014).
Ainda na abertura da sessão, o psicólogo e idealizador do curta-metragem Ramon Pinto Valim, falou que o filme tem um papel importante de mostrar que a loucura tem muito significado. “Não podemos ignorar por ser um delírio. Tem um significado, uma elaboração. Esse curta-metragem tendo como protagonista uma pessoa negra, que esteve em situação de rua é muito representativo e diz muito”, disse ele.
Ao final da exibição, Carlos quis saber porque tantas pessoas foram assistir ao curta-metragem. Ele emocionou a todos ao declarar seus sentimentos. “Foi importante saber que eu tenho voz, que eu falo, que tem respostas. Tô parecendo Renato Aragão (ator, comediante, diretor, produtor e roteirista)”, comentou ele, com expressão de alegria. Logo em seguida, ele falou que o sentimento que o dominava era de “que foi um Roberto Carlos” com um monte de gente assistindo seu filme.
Para a gerente de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, Anacyrema Silva, o curta-metragem representa uma forma de acessar informações para que as pessoas possam ter outro ponto de vista sobre o que se passa com esse público e com outros indivíduos. “Os efeitos e objetivos das ações educativas são focados na mudança de cada um. É preciso que as pessoas tenham acesso a informações para que possam ter outro ponto de vista sobre o que se passa com elas e com outros indivíduos”, comentou.
Anacyrema ressaltou que os relatos no curta-metragem demonstraram posturas que se estabeleceram com base nas representações sociais que se encontram interligadas, tendo em certos momentos alguma ação ou olhar também protetor e de inclusão, por mínimo que pudesse parecer.
Para a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, o olhar atento e criativo dos trabalhadores dos serviços de acolhimento faz com que os usuários sejam protagonistas de sua própria história. “Iniciativas como essa enfatizam que o trabalho social deve ser construído de forma participativa e coletiva”, enfatiza a secretária.
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