Desfiadeiras falam sobre a época mais agitada do ano na Ilha das Caieiras

Desfiadeiras falam sobre a época mais agitada do ano na Ilha das Caieiras
Rosane Pereira da Silva

Os preparativos para a época com uma das maiores “movimentações gastronômicas” do ano do ano já começaram! Neste mês de março, ocorre o tradicional Festival de Torta Capixaba, que oferece um cardápio repleto de delícias para os visitantes. A festa, realizada há vários anos na Ilha das Caieiras, atrai capixabas e turistas, o que movimenta a economia local. As desfiadeiras de siri são as responsáveis por preparar o carro-chefe da casa: a famosa Torta Capixaba.

A preparação da torta não acontece de uma hora para a outra. A população local, principalmente as desfiadeiras, se dedicam por meses para fazerem as receitas do cardápio e agradar a todos.

A movimentação de pessoas que visitam a Ilha das Caieiras, a tradicional casa da Torta Capixaba, quase dobra nesta época do ano. As desfiadeiras se prepararam para vender seus quitutes e garantir uma boa renda. Rosane Pereira, desfiadeira há 45 anos, carrega a tradição de fazer a torta, dom herdado de sua avó, Dona Maroca.

“Nós somos uma casa só de mulheres. Começou com a minha avó e foi passando de geração para geração. Sempre trabalhamos com mariscos e daí surgiu a torta. Antes não era para comercializar, era para comer com os parentes que vêm para cá nessa época do ano, mas foi tomando outras proporções e chegou no que é hoje”, iniciou contando.

Bárbara Bueno Sá
Rosane Pereira da Silva
Rosane Pereira, desfiadeira há 45 anos, segue fazendo sucesso na Ilha das Caieiras. (ampliar)

Tradição

A tradição de fazer a Torta Capixaba nesta época do ano começou na Ilha quando os vizinhos também trocavam pedaços da iguaria, espalhando por toda a comunidade.

“Foi quando começamos a comercializar e hoje temos esse lindo festival. É muito gratificante, isso é tradição. Saí muita torta e para todos os lugares possíveis, tem tortas minhas que vão até para o exterior”, disse Rosane.

Desde a extração dos mariscos até a torta pronta, o trabalho feito exclusivamente pelas mulheres da Ilha, que fazem cada etapa da culinária. As desfiadeiras de siri são mulheres habilidosas que trabalham com maestria para extrair a carne do siri, um crustáceo abundante nas águas da região da Ilha das Caieiras.

A preparação para esta época do ano, especialmente na casa da Rosane, começa logo após o término do carnaval. “Além da gente juntar os mariscos para fazer a torta, tem os fregueses. Eu trabalho o ano todo, eu vivo disso. Então, eu tenho bastante fregueses que compram toda semana”, contou ela, dizendo também que vende grande quantidade neste período, chegando em média a 150 quilos de torta.

Na Ilha das Caieiras, as mulheres da comunidade encontraram no siri e no Festival de Torta Capixaba uma fonte de sustento e uma forma de expressar a cultura da comunidade.

Segundo Rosane, o Festival de Torta Capixaba ajuda diversas desfiadeiras, pois todas esperam por essa renda, que vem especificamente nesse momento do ano. Com o sucesso nas vendas, elas conseguem comprar ainda mais itens que viabilizam a produção.

Cultura e tradição

Luisa Helena, moradora da Ilha das Caieiras e uma das mulheres que fazem o festival acontecer, guarda na memória o início do projeto com muita cultura e tradição. O festival hoje é fundamental em sua vida. Segundo a desfiadeira, ela e sua família sempre tiveram facilidade para retirar os mariscos. Desde muito pequena, isso tornou-se parte do seu dia a dia.

Luisa e Rosane são mulheres habilidosas que preservam e perpetuam a arte de desfiar o siri, enriquecendo cada vez mais a gastronomia capixaba e sendo personalidades reais da identidade cultural da região.

“Quando começamos o festival eram só quatro mesinhas, foi aparecendo gente querendo e hoje é grande dessa forma. A partir do 12° festival começamos a fazer alguns cursos que a Prefeitura de Vitória nos proporcionou e fomos aprendendo a comercializar cada vez mais”, disse.

Mulheres de pescadores, tanto Luisa quanto Rosane, tiveram em suas casas a influência pela pesca e pelos mariscos. A trajetória as levaram a se aperfeiçoar  no trabalho e fazer com que o Espírito Santo fosse nacionalmente conhecido também pela Torta Capixaba, que todos queriam experimentar.

Foto Divulgação
Luiza Helena é desfiadeira de siri na Ilha das Caieiras
Luiza Helena, moradora da Ilha das Caieiras, é uma das mulheres que faz o festival acontecer. (ampliar)

“Antigamente éramos só nós, mas agora com o apoio da Prefeitura está melhor ainda. A gente tá cada vez mais aperfeiçoando e tem dado muito certo. Tem mais de 40 anos que isso faz parte da minha vida, eu sou apaixonada por tudo”, contou ela.

Segundo Luísa, o festival é uma grande realização e ela se orgulha a cada dia por entregar um produto bom e com qualidade. “Estarmos em um evento tão grande, tão conhecido, é algo tenho orgulho e luto muito para dar certo todos os anos e não só para mim, mas para todos que fazem parte”, comentou.

Nascida e criada na Ilha das Caieiras, Luisa Helena vai até o mangue para pegar seus mariscos e garantir sua venda. Ela tem prazer em participar do processo do início ao fim: “Eu tenho muito orgulho desse lugar. Muito mesmo. Eu sou apaixonada pela Ilha das Caieiras e pelo que a gente conquistou nela”.

Para a desfiadeira, a sensação é de gratidão por todo o trabalho realizado. “Quando eu vejo meus vizinhos satisfeitos com esse evento, que foi uma luta muito grande para chegarmos aonde nós chegamos, fica a sensação de muito agradecimento a Deus, principalmente, e a sensação de dever cumprido. A gente fica ansioso para chegar logo ao evento para vermos o sorriso no rosto dos outros. Isso é muito bom. E quando todos saem satisfeitos, melhor ainda”, disse emocionada.

Em um mundo de constante mudança, a Ilha das Caieiras e suas desfiadeiras se erguem, demonstrando como a tradição e sabor se entrelaçam para dar vida a um patrimônio gastronômico único. Ao chegar neste tesouro da capital, os visitantes têm a oportunidade não apenas de provar a deliciosa Torta Capixaba, mas também de conhecer a história marcada por resiliência, tradição e cultura.