Um pouco da história da rua Sete de Setembro, Centro de Vitória
Se o Centro de Vitória permanece como o “coração” da capital do Espírito Santo, a Praça Costa Pereira e a rua Sete de Setembro são referências “obrigatórias” para o Centro, por sua importância histórica, política, social e cultural.
A atual rua Sete de Setembro originou-se de um caminho que ligava os fundos de grandes e tradicionais chácaras da cidade, no final do século XIX, como as do Vintém, do Nascimento e Mulundu. À época, era popularmente conhecida como rua do Reguinho, embora documentos indiquem que o nome oficial era rua da Várzea. Inicialmente, a rua não era pavimentada, até que, em 1895, foi feito um aterramento e a canalização da água. Começando na prainha no Largo da Conceição, então Praça da Independência (atual Praça Costa Pereira), e seguindo até a Fonte Grande, a rua da Várzea foi, por muitas décadas, uma das principais vias da capital.
No início do século XX, a urbanização avançava no Centro, e o bonde chegou ao bairro, passando pela rua Sete. Nela também se encontravam a Chefatura de Polícia (entre 1910 e 1970), a sede da Prefeitura de Vitória (até a década de 1970), e a antiga empresa de energia elétrica CCBFE. Foi durante as comemorações do centenário da Independência do Brasil, em 1922, que a Rua da Várzea foi rebatizada como Rua Sete de Setembro.
A partir da década de 1950, a rua Sete adquiriu grande importância comercial, sendo um verdadeiro shopping a céu aberto. Nela existiam lojas de armarinho, cama e mesa, prataria e cristais. As lojas de roupas de grife estavam, necessariamente, na rua Sete. Ter endereço residencial na rua Sete garantia status, sobretudo se o apartamento fosse dos edifícios Gaivota ou Antares. Este último marcou a história da rua com a inauguração de sua Galeria Shopping 7, onde passou a funcionar a primeira escada rolante de Vitória.
Em 1967 e 1969, a rua recebeu novas obras de drenagem, a fim de se resolver os problemas dos constantes alagamentos. Em 1977, após um período de experiência, o trecho compreendido entre as praças Costa Pereira e Ubaldo Ramalhete Maia se tornou a primeira rua de pedestres de Vitória, com pedras portuguesas, canteiros e bancos. A foto abaixo data justamente dessa época.
A rua também é conhecida pelos seus bares. Um dos mais famosos foi o Britz Bar, que por muito tempo reuniu diversas personalidades e grupos da sociedade capixaba. Nele se encontravam os jornalistas que trabalhavam nos hoje extintos O Diário e Jornal da Cidade.
Nas últimas décadas do século passado, as cidades se tornaram policentrais, e o Centro de Vitória perdeu muito do seu prestígio com a saída de órgãos públicos, lojas e moradores. Isso inevitavelmente impactou a Rua Sete, cujos moradores claramente são hoje de uma faixa etária mais avançada. A degradação do calçadão levou a administração João Coser (2005-2012) promover uma reforma. No entanto, como muitas vezes aconteceu no Centro de Vitória, a desconsideração com o passado e com a estética resultou na descaracterização do calçadão, que teve suas belas pedras portuguesas, por exemplo, retiradas.
Rua 7 HOJE. (Foto abaixo:)
Além disso, as últimas administrações municipais passaram a incentivar festas de grande impacto na região, como o carnaval e o Viradão cultural. Isso passou a causar grandes transtornos aos moradores, e até mesmo riscos à sua saúde e vida, uma vez que ficam sem acesso a ambulâncias por causa dos bloqueios das vias. O patrimônio histórico do entorno, como o Teatro Carlos Gomes, sempre é vandalizado, e os jardins da Praça Costa Pereira terminam em “terra arrasada”.
A explicação para tudo isso é simples: as forças de segurança, há muito defasadas em seus efetivos, não conseguem proteger uma área com ruas estreitas e de difícil acesso. Além disso, a prática de outros crimes, a falta de educação dos foliões, o barulho excessivo – mesmo após o horário oficial do término das festas – e até confrontos com a Polícia Militar, como no carnaval de 2019, passaram a ser problemas sérios para os moradores da Rua Sete em tais ocasiões. Portanto, há que se pensar urgentemente no deslocamento desses eventos para outras áreas da cidade, e se investir em atividades culturais que respeitem o espaço e as pessoas que vivem na Rua Sete.
Em que pesem os problemas recentes, não há como não apreciar essa rua que, mesmo com pouco mais de 600 metros de extensão, já foi palco de tantas festividades, amores, negócios e histórias. Ela ainda conta com boas lojas, restaurantes, bares e condomínios, mas precisa de um olhar especial por parte do poder público. Até o ano que vem, data do bicentenário do Brasil e do centenário da Rua Sete de Setembro (como então passou a se chamar), os moradores do Centro de Vitória aguardam a tão sonhada revitalização do bairro – e da Rua Sete, em especial. Tal revitalização precisa contemplar não só os frequentadores da região, mas também os comerciantes e moradores desse lugar tão querido de Vitória.
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