Thais Hilal e OÁ Galeria, a potência do Sensível!

Thais Hilal e OÁ Galeria, a potência do Sensível!

Há 18 anos, a OÁ Galeria se tornou um espaço de referência para a arte capixaba, funcionando atualmente na Praia do Suá, em Vitória. Idealizada por Thais Hilal, a galeria se destaca tanto pela difusão da arte quanto pelo incentivo a jovens artistas, além da manutenção da vida cultural na capital.

O DNA da OÁ Galeria está profundamente ligado à trajetória de Thais e de seu companheiro, Hilal Sami Hilal, um dos maiores artistas do Espírito Santo. Nesta entrevista, Thais compartilha sua história, os desafios do mercado de arte e sua visão sobre o cenário cultural capixaba.

 

Thais Hilal

1-Por que o nome OÁ e qual a história por trás dele?

A OÁ, na verdade, começou na praia. O nome vem de um peixe que só é chamado assim no Espírito Santo. Eu gosto do fonema e de nomes curtos e fortes.

Inicialmente, eu e duas amigas montamos uma confecção de tricô, uma malharia retilínea, e a dúvida sobre o nome surgiu. Como eu pescava muito com as crianças em Setiba, conhecia esse peixe listrado de amarelo e preto, com a barriguinha branca. Achei o nome lindo e sugeri para minhas amigas, que adoraram. Assim nasceu a OÁ Tricô, em 1985.

Por 20 anos, tive uma indústria de produção de tecido, confecção e venda de roupas autorais. Sempre me inspirei na arte para criar. Com o tempo, minhas sócias saíram, e eu continuei sozinha. No entanto, a moda me consumia muito, pois era um processo longo e, em poucos minutos, a coleção já estava “vista” e superada. Eu precisava de algo que durasse mais.

Isso me fez perder o interesse pela moda e decidir focar na arte. Passei a trabalhar na organização do trabalho do Hilal e, depois, com vitrines, até que abri a galeria. O nome OÁ permaneceu, pois já era reconhecido. Hoje, significa “Objeto Arte”.

 

2-Quem é Hilal Sami Hilal?

Hilal é meu marido há 47 anos. Conheci ele aos 15 anos, mas só começamos a namorar depois. Antes disso, fomos grandes amigos.

Acompanhei toda a trajetória dele como artista e as dificuldades de se estabelecer na profissão. Hilal enxerga o mundo como artista o tempo todo. Sempre conversamos muito sobre seu trabalho, e eu ajudava com opiniões e organização, mas nunca na produção artística em si.

Nos primeiros anos, ele fazia as vitrines da minha loja. Uma vitrine era arte, a outra, moda. Isso foi muito bacana, mas tem poucos registros. Depois, me envolvi mais com a organização da carreira dele, fotografando obras e administrando contatos com galerias.

 

3-Sua galeria é comercial, mas você também investe no incentivo a jovens artistas. Como vê esse papel?

Tudo depende da forma como enxergamos o mundo. Como sempre vivi cercada de artistas e conheço os desafios da profissão, me interesso mais pelo processo artístico do que pelo comércio.

O Hilal sempre diz que eu deveria dirigir um centro cultural, não uma galeria, porque o dinheiro não está na frente do meu trabalho. Não é isso que me move.

 

4-Antes da mudança de endereço, você sentia que não estava atingindo o público certo?

Sim. No novo endereço, o ambiente traz uma segurança maior para quem compra arte. Há uma cultura de frequentar espaços de arte que precisa ser construída a longo prazo.

Acredito que estamos evoluindo. Os editais da Secult, por exemplo, estão fazendo diferença. Temos um gestor cultural maravilhoso, Fabrício Noronha, que faz um trabalho incansável. Ele gosta de arte, é artista e tem uma desenvoltura empresarial rara nesse meio.

 

5-As pessoas ainda saem do Espírito Santo para consumir arte? Há um roteiro cultural que as mantenha aqui?

O Sesc Glória está funcionando, assim como o MAES, a Homero Massena e algumas galerias privadas. É um avanço, mas ainda é pouco. Precisamos de mais aparelhos culturais e fortalecer esse cenário juntos.

Já fiz uma ação impactante na OÁ, com o artista Rick Rodrigues. Criamos uma exposição chamada Jardim, em que ele bordou com fitas de tecido na grade externa da galeria. Isso atraiu muitas pessoas, pois a galeria começou a conversar com a rua.

Gostaria de fazer mais ações como essa, pelo menos três vezes por ano, pois são fundamentais para conectar a arte com a cidade e derrubar barreiras.

 

6-Qual a importância de manter o diálogo entre arte e sociedade?

Esse diálogo é fundamental. Quem não usufrui da arte vive uma vida muito medíocre. A arte transforma o olhar.

Na pandemia, por exemplo, o que nos salvou? Arte! Música, cinema, literatura, teatro… Ninguém vive sem arte, mesmo sem perceber. Até um jogo de futebol bem jogado é arte.

 

7-Muitas pessoas se distanciam dos espaços de arte porque acham que não vão “entender”. Todo mundo entende arte?

Nem todo mundo entende, mas todo mundo sente. Se uma obra te toca, já é suficiente.

A arte contemporânea exige curiosidade, e isso está se perdendo com a cultura do efêmero e do automático. Mas, se você se permite sentir, a arte cumpre seu papel.

 

8-Um artista precisa sair do Espírito Santo para ter relevância?

Acho que não. Hilal e Rick Rodrigues são provas disso. Eles se mantiveram no Espírito Santo e construíram suas carreiras aqui.

Sair pode abrir portas, mas, sem uma obra consistente, não adianta. O que determina o sucesso de um artista é a qualidade do seu trabalho e sua identidade.

 

9-Quem compra arte hoje em dia?

No Espírito Santo, são poucas pessoas. Vendo muito para fora. Colecionadores buscam sair do eixo Rio-São Paulo para encontrar novidades.

Isso também dá visibilidade para a galeria, pois temos um acervo de qualidade.

 

10-Por que você continua?

Ótima pergunta! Também me faço essa pergunta.

Se fosse pelo dinheiro, eu já teria parado. Mas eu gosto muito do que faço. A OÁ criou uma história e está consolidada.

Me sinto realizada quando levo o trabalho para fora e vejo reconhecimento. Tenho experiência, olhar estético e conhecimento de anos. Curadoria, para mim, é algo natural, que faço por osmose.

 

11-Como está a gestão da cultura em Vitória?

A Secretaria de Cultura de Vitória está indo bem. Há muita efervescência cultural, eventos e editais acontecendo. Estamos no caminho certo.

 

12-A iniciativa privada investe o suficiente nos artistas locais?

Ainda está aquém do necessário. Empresas como Petrobras e Banestes poderiam investir mais, mas focam muito no retorno em números.

O esporte e a música atraem mais público, mas deveriam apostar mais no cinema, teatro, artes plásticas e literatura. O retorno cultural seria enorme.

Finalizando a entrevista, Thais Hilal deixa claro seu compromisso com a arte capixaba. Mais do que um negócio, a OÁ Galeria é um espaço de resistência, experimentação e incentivo à produção artística.

OÁ Galeria: Av. Cezar Hilal, 1180 – loja 9 – Praia do Suá, Vitória – ES, 29052-234
Visitação: Segunda à Sexta-feira, de 10:00 às 19:00(exceto feriados).
Contato: (27)99944-5001
Entrada: Franca