Artista plástica transforma o luto e materiais de construção em expressões artísticas únicas.

Em “O fim me parece o nascer do sol”, a artista plástica e psicanalista Re Henri apresenta obras que utilizam fragmentos de espuma de sua cama e estruturas de construção civil em isopor, que remetem às sensações da dor do luto e da transformação do recomeço, vivenciadas pela artista durante a pandemia. Com concepção plástica e conceitual de Re Henri e curadoria de Neusa Mendes, a exposição chega ao Museu de Artes do Espírito Santo (MAES) no dia 19 de agosto e permanece em exibição até o dia 19 de outubro, com entrada gratuita.
Revivendo o luto da morte do seu pai, que ocorreu em 2015, a artista mergulha em uma pesquisa investigativa que propõe um paralelo com a bomba atômica que atingiu a cidade de Hiroshima. As ruínas e fissuras da espuma ganham novos contornos e contrastes com representações do sol e a cor amarelo-ouro, que protagonizam o trabalho de Re ao refletir sobre as relações opostas entre ruína e restauro, fim e (re)começo, morte e vida, destruição e amanhecer.
As obras e investigações foram desenvolvidas ao longo de 5 anos de pesquisa, a partir de episódios (a pandemia, a morte do pai e a devastação de Hiroshima) que afetaram a artista de formas profundas e se conectam em seus significados, instigando Re a transpor suas sensações e reflexões na pintura e nas artes plásticas, utilizando a materialidade da espuma, do isopor, do concreto e da tinta amarela como ferramentas que representam resistência, impregnação e fragmentos de memória.
“Meu trabalho se apresenta de forma inédita em peças de escala humana que convidam o outro em uma relação com o corpo próprio. Também salientam um retorno da pintura em minha pesquisa plástica, dispositivo que foi meu primeiro encontro com a arte, quando eu ainda era criança. Pintar é manipular com as mãos os fragmentos corpóreos, viscosos e viscerais, transcender o que já é nosso. Acredito que minha pesquisa se faz contemporânea quando convida o público a olhar para dentro.”
Enquanto vivenciava o luto pelo pai em torno dos significados do fim e do recomeço, a artista se identificou profundamente com a frase “pensei que o sol havia caído diante dos meus olhos”, falada por uma sobrevivente em um documentário sobre o bombardeio. Logo no momento exato após a morte de seu pai, Re passou a noite em claro e foi surpreendida pela forte luz do sol na varanda. Mas o sol que Re viu anunciava um novo amanhecer, encobrindo seu corpo “com um manto de proteção e aconchego”.
Neste trabalho, Re Henri chega à sua segunda exposição solo e se fortalece como referência na cena artística contemporânea capixaba. Neste ano, a artista integrou a exposição coletiva “A Cidade Sou Eu”, na OÁ Galeria. Durante a pandemia, ganhou o prêmio Respiros do Itaú Cultural. A artista esteve também presente no ano de 2018/19 na coletiva 20/20, do Museu Vale; e em 2017, apresentava sua primeira exposição individual, “O Véu do Real”, na Galeria Homero Massena, com recorde de público visitante.
Re Henri é uma bricoleur que se apropria dos restos. Cria objetos tridimensionais de ressignificação de outros objetos já existentes e sua pesquisa evoca questões acerca da imagem, da ciência, do cosmos e do psiquismo. Trabalha essencialmente na criação de esculturas, pinturas, fotografias e instalações. Também é notório em sua materialidade o uso de objetos metalizados e em acrílico, peças orgânicas como pedras e pêlos, bem como restos de materiais de espuma, plástico e madeira. Ao longo de 10 anos de pesquisa totalizam em sua produção 15 séries, com mais de 200 objetos.
Re Henri se defende como cientista, uma vez que seus trabalhos sempre configuram uma hipótese teórica. Psicanalista e mestra pela Universidade Federal Fluminense, e com formação e estudos contínuos na área, a artista discute questões referentes à afetação psíquica nos processos criativos e temas como morte, luto e gozo perpassam sua criação. Participou do curso Energias da Arte, promovido pelo Instituto Tomie Ohtake em 2015, bem como das formações em Arte Contemporânea do Parque Lage em 2019, com Iole de Freitas, Fernando Cocchiarale e Anna Bella Geiger. Bebe nas referências conceituais e plásticas dos trabalhos de Farnese de Andrade, Rosangela Rennó, Adriana Varejão, Waltercio Caldas, Louise Bourgeois, Anish Kapoor, Anselm Kiefer, Antoni Tapies e Olafur Eliasson.
A exposição é realizada com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 09/2023 – da Secretaria da Cultura do Espírito Santo (Secult)-ES.
✅ Serviço:
Exposição: “O fim me parece o nascer do sol’’
Entrada: gratuita, livre para todos os públicos
Abertura: 19 de agosto, às 17h
Visitação: terças a sextas, das 10h às 18h; sábados e domingos, das 10h às 16h
Local: Museu de Arte do Espírito Santo (Maes) — Av. Jerônimo Monteiro, 631 — Centro, Vitória-ES

Empresária e acadêmica de marketing digital, atua como roteirista, videomaker, social media e gestora de tráfego pago. Com experiência estratégica e criativa, ajuda marcas a se destacarem no ambiente digital. É também mãe e missionária, unindo propósito, fé e comunicação em tudo o que faz.