Mucane recebe retratos de pessoas comuns em novos murais e mostra representatividade
Após um mês e meio de trabalho, a área externa do Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” (Mucane) está de cara nova. Aliás, de rostos novos!
Após completar 28 anos, no último mês de maio, o pátio ao fundo da instituição recebeu duas intervenções muralistas do artista visual Starley. A mostra “Iconegrafia”, que foi entregue na noite desta quinta-feira (1º), traz dois painéis verticais, ocupando uma área de 12 por 4 metros quadrados, com os rostos de dois trabalhadores negros da Vila Rubim.
“O projeto contou com um processo de imersão, onde conheci grandes histórias de superação das pessoas que retratei nos painéis. Histórias que me conectaram ainda mais a cada traço que eu deixava na parede. Exteriorizar a beleza do rosto de pessoas comuns elevou a execução em um nível quase que espiritual, onde pude extrair um resultado de impacto, trazendo a beleza do cotidiano. As pessoas não são apenas ‘matéria-prima’ para um fim, existem vida e sonhos que pulsam a cada respirar”, afirmou Starley.
Homenageados
Um dos homenageados é Marcos das Graças Hipólito, ou “Pintado”, como prefere ser chamado, por conta do vitiligo, que adquiriu aos 30 anos de idade. Aos 67 anos, é morador e vendedor no bairro Vila Rubim.
No segundo mural, está a trabalhadora Juliana Maria Ribeiro da Silva, que completa 64 anos no próximo dia 21. Além de vendedora da Vila Rubim, ela mora também nas proximidades, no bairro Ilha do Príncipe.
O que ambos têm em comum, além de trabalharem no famoso mercado capixaba? Ela atua no local há 50 anos e ele, há 20. O artista responde:
“Entre temperos e grãos de todos os tipos, eles são pessoas simples, com histórias de superação, que dão aulas de vivência nesse mundo cada dia mais acelerado e digital, em que a ausência de ‘coraçõezinhos’ nas redes sociais gera quadros depressivos e crises existenciais. Porém, o mundo real é outra coisa, é mais urgente, e essas duas figuras, com suas histórias, nos trazem para essa realidade”, revela o muralista.
“Ambos me passaram uma incrível imagem de força e alegria! Busquei captar cada detalhe de seus rostos como se fossem meus avós, e na real, poderiam ser, na real, eles se parecem com os avôs e avós, pais e mães da esmagadora maioria das pessoas que vêm de onde eu vim”, completou.
A técnica utilizada é a mesma do grafite, habitualmente presente em ruas e avenidas.
Representação
“O objetivo da mostra ‘Iconegrafia’ é ampliar o diálogo e a representação de universo no que diz respeito à imagética dos negros no Espírito Santo. Se observarmos bem, o título agrupa as palavras ícone, negra e, também, grafia. A história da África há muito vem sendo contada através do filtro ocidental, de modo que boa parte dos seus descendentes não se reconhece na ancestralidade. O projeto tem como principal objetivo representar o homem, a mulher e o idoso preto, com a intenção de trazer para o campo da construção imagética a identidade de pessoas ‘comuns’, indivíduos que vivem em ‘Comum-unidade'”, finaliza Starley.
Aldir Blanc
O projeto “Iconegrafia” é contemplado pela Lei Aldir Blanc, concebida em junho de 2020 para auxiliar financeiramente os trabalhadores do setor cultural, que tiveram suas atividades paralisadas por conta da pandemia.
Starley
O artista Starley se utiliza do “graffiti”, como habitualmente escreve em seus materiais de divulgação, como principal linguagem para abordar temáticas variadas em suas obras, desde 2010.
Com projetos voltados, principalmente, para o público juvenil, possui obras espalhadas por Minas Gerais, Paraná, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Espírito Santo, além de participações em festivais internacionais, como Dinamarca e Noruega.
Reprodução: PMV
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