Do Manguezal ao Coração da Cidade: 12 anos do “Dia Municipal do Manguezal” em Vitória e o papel pioneiro da Educação Infantil na proteção ambiental

Do Manguezal ao Coração da Cidade: 12 anos do “Dia Municipal do Manguezal” em Vitória e o papel pioneiro da Educação Infantil na proteção ambiental

Em dezembro de 2013, um projeto aprovado na Câmara Municipal de Vitória fincou raízes profundas na consciência ambiental da cidade: o “Dia Municipal do Manguezal”, celebrado anualmente em 26 de julho. A lei nº 8.606/2013 propôs mais do que uma simples data comemorativa — ela consolidou um compromisso coletivo com a educação ambiental e a preservação de um dos ecossistemas mais preciosos da capital capixaba. Agora, em 2025, ao completar doze anos, a lei se fortalece como símbolo de cidadania ecológica e como um marco na articulação entre poder público, escolas e comunidades.

A gênese do projeto: da sala de aula ao legislativo

O que talvez poucos saibam é que a origem da lei teve como ponto de partida um trabalho pedagógico realizado por um grupo de crianças de apenas quatro e cinco anos de idade, no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Jacyntha Ferreira de Souza Simões, localizado em Goiabeiras. Sob orientação da professora Fabíola Fraga, as crianças desenvolveram uma iniciativa de educação ambiental que se tornaria emblemática: uma carta com mais de seis  metros de comprimento, composta por desenhos, frases e fotografias que expressavam a importância do cuidado com o manguezal. O projeto ganhou projeção nacional e internacional ao ser incluído na elaboração da “Carta de Vitória”, apresentada durante a Conferência das Nações Unidas Rio+20 em 2012 — o maior evento ambiental já promovido pela ONU. A ação educativa chamou atenção de ambientalistas, gestores públicos e formadores de políticas, influenciando diretamente a criação do projeto de lei que se tornaria o “Dia Municipal do Manguezal”, o trabalho realizado pela equipe do CMEI e a Professora são citados no escopo da Lei.

Manguezais de Vitória: um patrimônio ambiental e cultural

Vitória está situada em um dos maiores complexos de manguezais do Brasil, com cerca de 11 km² de área, sendo 900 hectares localizados na Reserva do Lameirão — reconhecida como o maior manguezal urbano da América Latina. Esses ecossistemas abrigam biodiversidade riquíssima, com espécies de peixes, crustáceos, aves e plantas adaptadas ao encontro entre águas doces e salgadas.

Além do papel ambiental crucial — atuando como berçário da vida marinha, filtrando poluentes e protegendo a costa contra erosões — os manguezais também sustentam tradições e práticas culturais das comunidades pesqueiras, marisqueiras e extrativistas. Por isso, o “Dia Municipal do Manguezal” reafirma não apenas uma pauta ecológica, mas também o reconhecimento do valor social e histórico dessas áreas.

Educação ambiental desde cedo: uma aposta de futuro

Ao incluir no texto da lei a recomendação para que escolas localizadas próximas aos manguezais desenvolvam projetos teóricos e práticos voltados à conscientização ambiental, o legislativo municipal fortaleceu uma concepção de educação voltada para a cidadania e o pertencimento territorial. “A comunidade escolar localizada em áreas próximas será incentivada a desenvolver atividades de modo a contribuir para a educação ambiental dos alunos e moradores da localidade”, afirma  a Professora Fabíola Fraga.

A Professora e o Projeto.

Fabíola Fraga, a professora que idealizou o projeto “Amigos do Manguezal “no CMEI de Goiabeiras, tornou-se referência em práticas pedagógicas voltadas à natureza. Atualmente, como pesquisadora no Doutorado da Universidade Federal do Espírito Santo,  continua incentivando abordagens críticas e sensíveis ao meio ambiente como parte inseparável do processo educativo. Em sua visão, “a educação ambiental precisa começar na primeira infância, com experiências sensoriais, afetivas e simbólicas que conectem as crianças à natureza que as cerca”.

Essa abordagem encontra respaldo na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê o campo de experiências “O eu, o outro e o nós” e a “Exploração do mundo natural e social” como eixos fundamentais na formação das crianças pequenas. Ao explorar o manguezal como espaço de aprendizado e respeito à vida, a prática pedagógica se torna também prática política e comunitária.

Do papel à prática: doze anos de ações e desafios

Desde 2013, o “Dia Municipal do Manguezal” tem mobilizado escolas, ONGs, universidades, lideranças comunitárias e o poder público para ações como mutirões de limpeza, oficinas de educação ambiental, trilhas interpretativas e campanhas de comunicação. Contudo, os desafios permanecem: a especulação imobiliária, o despejo irregular de esgoto, o descarte de lixo e a ocupação desordenada seguem ameaçando os manguezais da capital.

Ainda assim, a data funciona como um poderoso lembrete anual da importância de preservar o que resta dos ecossistemas de mangue — não por nostalgia, mas por necessidade urgente de justiça climática, soberania alimentar e preservação da memória coletiva. Mais do que um marco no calendário, trata-se de um chamado ético, social e ambiental.Um legado que começa pequeno, mas cresce forte

A história da lei e sua relação com o trabalho de Fabíola Fraga e das crianças do CMEI Jacyntha Simões mostram que mudanças estruturais podem, sim, nascer de iniciativas pequenas, simbólicas, mas profundamente enraizadas. A imagem das crianças construindo uma carta de 6 metros para falar do manguezal em que vivem, veem e sentem todos os dias é mais poderosa do que muitos discursos legislativos.

Hoje, ao olhar para os 12 anos da lei, é possível afirmar que a semente germinada naquela escola floresceu em toda a cidade. O “Dia Municipal do Manguezal” é, acima de tudo, um tributo à força transformadora da educação pública, da infância como sujeito político e da natureza como mestra.

Atualmente no CMEI Lizandre Ignes Carpanedo do Carmo, em Jardim Camburi, a Professora nos ensina que preservar o meio ambiente é uma prática diária, constante e urgente. Trabalha agora, claro, a preservação ambiental com o projeto “Minha Escola é o Mundo: Ela tem um ninho” onde compartilha com os pequenos a importância de respeitar a vida em todas as suas formas.

SERVIÇO

Data: 26 de julho – “Dia Municipal do Manguezal”

Instituído pela: Lei nº 8606/2013

Objetivo: Promover ações de preservação e educação ambiental em áreas de manguezal

Inspiração: Carta ambiental elaborada por crianças do CMEI Jacyntha F. S. Simões, Goiabeiras, sob coordenação da professora Fabíola Fraga

Área de manguezal em Vitória: aproximadamente 11 km²

Reserva do Lameirão: 900 hectares – maior manguezal urbano da América Latina