Mês da Mulher: conheça a história de Flávia Valdetaro

Mês da Mulher: conheça a história de Flávia Valdetaro
Flávia Valdetaro atua como segurança patrimonial no Banco de Alimentos Herbert se Souza

Reprogramar a rota da vida. Esta ação define bem a trajetória da técnica de enfermagem em sua juventude e vigilante na fase adulta, Flávia Valdetaro, de 48 anos. Uma história construída com muita coragem para garantir o sustento dos seus seis filhos, cuidar dos pais (a mãe, uma pessoa com deficiência visual) e superar o luto pela perda do marido, asseguram a vaga de Flávia na lista de mulheres potentes e, ainda, como inspiração para superar muitos preconceitos e quebrar paradigmas.

Flávia é a representatividade feminina observada na equipe de segurança patrimonial do Banco de Alimentos Herbert de Souza, da Secretaria de Assistência Social de Vitória (Semas) que ingressou na área, depois de anos dedicados ao setor de saúde e incursões pela área de beleza. Aos 22 anos, entrou no mercado de trabalho ao mesmo tempo em que casava, tinha o primeiro filho (Murilo, 24).

Filha de pais humildes, sempre batalhou muito para conquistar seu espaço profissional e como mulher. Estudou para se tornar técnica de Enfermagem, fez cursos para cabeleireira e se desdobrava para cuidar da família, mas acabou sendo obrigada a fazer uma pausa na carreira para lidar melhor com a maternidade, já que mais um filho que chegava e depois mais outro (Clara, 20, e Miguel, 15, respectivamente).

Mas, o tempo de dedicação exclusiva à família não demorou muito. A volta ao trabalho foi ainda mais necessária e urgente, após a separação do marido e de se tornar “mãe solo”. Tempos depois, Flávia viu sua vida ganhar um novo fôlego: encontrou um novo amor, parceiro de vida e pai de outros três filhos que ela teve (Leonardo, 11, Liandro, 9, e Lucas,6).

O que ela não contava era com o inesperado falecimento do seu marido, vítima de um infarto fulminante. “Me vi perdida. Por dez anos, com ele, só me dedicava a cuidar dos filhos. Tinha uma vida tranquila. A morte foi um baque”, contou ela. Flávia falou que aos 44 anos de idade se viu obrigada a buscar uma recolocação no mercado de trabalho.

Neste momento, os ventos começaram a soprar na direção da área da segurança. “Uma amiga me convidou para trabalhar como supervisora de portaria. Depois de um ano de trabalho, já estava apaixonada pelo setor, pelos colegas de trabalho e muitos me falavam para fazer curso de vigilante”, comentou ela. E, foi isso que Flávia fez.

Ela vestiu-se de coragem, pegando todo o dinheiro recebido com a demissão para se inscrever no curso de vigilante. Ao ser questionada como foi, Flavia disse: “Passei por todo o processo ao lado de colegas de classe com a faixa etária de 20 a 30 anos e, depois de passar por tudo, conclui: “não estou velha para começar, ou recomeçar. Participei e fui aprovada em todas fase e aulas de defesa pessoal, tiro, luta, parte teórica e prática”, falou emocionada.

Com toda a dedicação a recompensa veio, Flavia foi contratada. “Deus coloca na hora certa”, afirmou ela. Nessa hora, a curiosidade de saber como é ser uma mulher na função de vigilante encontra respostas que encontram eco na frase de Caetano Veloso da música “Dom de iludir” – “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

“A mulher enfrenta muitos preconceitos. Parece que os homens ficam inseguros. Acham que uma mulher não dá conta. Outras pessoas já acham que somos mais brabas que os homens”, disse ela. Como é estar numa área predominante formada por figuras masculinas, neste momento, a fisionomia de Flávia ganha contornos mais sério. “Sou muito sociável, mas não mexa comigo”, a resposta já diz a que se refere.

Sonhos

Fora isso, a vigilante afirma que “hoje, se sente muito feliz pela sua escolha. Tudo que passei me dá força de viver, para criar meus filhos. Saber que tem esperança, que tem uma vida pela frente”. Ao ser questionada se depois de reprogramar sua rota ainda tinha espaço para sonhos, Flávia vai logo listando: “encontrar um companheiro legal para na velhice ter alguém para conversar; ver meus filhos formados: dar a alegria para os meus filhos como eu tenho de chegar na minha idade e ter pais”, revelou ela.

Flavia usou das palavras do pai para se definir. “Ele diz que sou uma guerreira. Fiquei emocionada com o que ele disse, porque eu os acho maravilhosos, que eles que são guerreiros. Todo dia agradeço por ter meus pais, meus filhos. Acho que sou uma guerreira mesmo”, falou ela.

Ao ser questionada sobre seu maior orgulho, após saber que foi indicada como uma mulher potente, Flávia foi direta. “Quem perdeu um pouco de sua essência após dois casamentos, voltar a ser eu mesma é muito bom. Sou simples, gosto de pessoas simples do lado. Agora, começo a olhar para dentro de mim. Depois de tudo que passei, sei que sou muito amiga, ajudo as pessoas. Vim para o mundo para isso”.

A gerente de Segurança Alimentar e Nutricional da Semas,  Roseane Fernandes, ao conhecer um pouco mais da história de vida de Flávia, disse: “É um prazer e uma alegria trabalhar com a Flávia. Além de ser uma pessoa super bacana e bem humorada, ela contribui para a diversidade e autonomia das mulheres, ocupando um espaço numa área ainda predominantemente masculina”, ressaltou.

A secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, disse que a história da Flávia reafirma o quanto a vida pode ganhar novos significados e novo sentido. “Somos uma Secretaria formada majoritariamente por mulheres que cuidam e trabalham para que a vida de muitas pessoas possa ser melhor. Na Semas a gente gosta de gente, como bem resumiu a Flávia”, destacou.